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ChatGPT, etarismo e clima são possíveis temas da redação do Enem 2023

(FOLHAPRESS) – O Enem 2023 acontece nos dias 5 e 12 de novembro e, como nos outros anos, candidatos ficam ansiosos para saber qual será o tema da redação, aplicada no primeiro dia de prova.

Porém, qualquer que seja o tema definido pelos organizadores, o mais importante da parte dissertativa do Enem é o conhecimento da estrutura do texto e dos requisitos usados na avaliação, diz Felipe Leal, professor de redação e filosofia do Curso Anglo.

O exame é composto por uma coletânea de textos motivadores (que podem também ser imagens) e por uma frase-tema, “que não apenas indica o assunto geral a ser tratado no texto, mas também baseia a seleção e a organização de informações para a construção de um texto alinhado ao recorte temático proposto”, diz Gabrielle Cavalin, coordenadora de redação de Unidades Escolares do Poliedro.
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AS COMPETÊNCIAS AVALIADAS NA REDAÇÃO DO ENEM

Critérios avaliados estão listados na “Cartilha do Participante”

Competência 1
Demonstrar domínio da modalidade escrita formal da língua portuguesa.

Competência 2
Compreender a proposta de redação e aplicar conceitos das várias áreas de conhecimento para desenvolver o tema, dentro dos limites estruturais do texto dissertativo-argumentativo em prosa.

Competência 3
Selecionar, relacionar, organizar e interpretar informações, fatos, opiniões e argumentos em defesa de um ponto de vista.

Competência 4
Demonstrar conhecimento dos mecanismos linguísticos necessários para a construção da argumentação.

Competência 5
Elaborar proposta de intervenção para o problema abordado, respeitando os direitos humanos.
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A reportagem consultou cursinhos pré-vestibular sobre as apostas deles para o tema deste ano e algumas possibilidades de contexto. Mesmo que não acertem, as sugestões podem ajudar no treino de escrita dos candidatos nesta reta final para o exame.

Veja abaixo algumas das propostas.
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MUDANÇAS CLIMÁTICAS

O ano de 2023 foi recheado de eventos no Brasil que relembram o impacto que a crise climática pode trazer para o dia a dia, como chuvas e calor extremos.

Essa é uma das apostas da professora do laboratório de redação do Objetivo, Maria Aparecida Custódio.

Houve, por exemplo, a chuva extrema em São Sebastião, no litoral paulista, que deixou dezenas de mortes.

A onda de calor que atingiu o país entre agosto e setembro também teve participação da crise climática. Um recente estudo apontou que a crise climática gerada pela ação humana aumentou em até cem vezes a chance de um calor extremo -como o visto no final de setembro no Brasil- ocorrer.

Outro estudo demonstrou que a crise climática teve, ao menos em parte, responsabilidade pelo aumento de probabilidade e intensidade das chuvas em maio de 2022 no Nordeste brasileiro, que também provocou outras dezenas de mortes.

“O tema se relaciona com o direito à alimentação, à água, ou seja, aponta para os riscos à saúde decorrentes das transformações no clima”, afirma Gabrielle Cavalin, do Poliedro.

De forma mais geral, pensando na área temática ambiental, a poluição plástica e os desafios para o Brasil abandonar completamente combustíveis fósseis são as apostas de Felipe Leal, do Curso Anglo. Com pé na questão ambiental e também na saúde, saneamento básico também seria uma possibilidade, considerando as discussões dos últimos anos sobre o tema.

VIOLÊNCIA NAS ESCOLAS

O Brasil, em 2023, assistiu assustado a inúmeros casos de ataques em escolas. No caso mais recente, ocorrido nesta semana, em São Paulo, um adolescente de 16 anos matou uma aluna e feriu outras duas.

Foi a 36ª ocorrência no Brasil desde em 2001, considerando crimes cometidos por alunos ou ex-alunos. Segundo dados de um relatório de pesquisadores da Unicamp e da Unesp parte do Gepem (Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Moral), a maior parte dos ataques tem datas recentes.

Do total de ataques a escolas, 21 ocorreram desde fevereiro de 2022, quando os colégios brasileiros reabriram após o fechamento devido à pandemia. O ano de 2022 teve dez ataques e 2023 já teve 11.

“O Enem pode abordar essa temática de modo que o aluno precise apontar quais são os motivos possíveis para o aumento desses episódios especificamente nos últimos anos”, disse Gabrielle Cavalin, do Poliedro.

As reflexões sobre o tema passam por questões como liberação do uso de armas e, principalmente, redes sociais, segundo Felipe Leal, do Anglo. “Muitos dos últimos ataques, assim como acontece nos Estados Unidos, estão ligados a redes extremistas, principalmente em fóruns, que tem a ver com ideologias de extrema-direita, como tendências neonazistas ou de supremacistas brancos”, diz.

VIOLÊNCIA NO TRÂNSITO

A insegurança no trânsito é outra aposta de Maria Aparecida Custódio, do Objetivo, e também de Luiz Carlos Dias, coordenador de redação do Colégio Etapa.

Dias diz que, apesar da Lei Seca, o país permanece com altos índices de acidentes.

Em 25 anos, por exemplo, a frota de motos no país cresceu 983% e, ao mesmo tempo, o número de motociclistas mortos no trânsito por ano teve alta de 977%.

Outro exemplo são os dados recentes de mortes no trânsito em São Paulo. No primeiro trimestre deste ano, a cidade registrou o maior número de mortes no trânsito, para esse mesmo espaço de tempo, desde 2016: 209 vítimas
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DIVERSIDADE LINGUÍSTICA

Os professores do Etapa e do Objetivo também apostam na questão da valorização/preconceito linguístico.

Luiz Carlos Dias, do Etapa, citando dados do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), diz que no Brasil se estima a existência de mais de 250 línguas que não são reconhecidas ou valorizadas.

ETARISMO

O Brasil tem ficado mais velho e não necessariamente a adaptação a esse novo Brasil vai ser fácil.

“O Enem, historicamente, aborda formas de preconceito contra grupos sociais. O caso de etarismo contra uma universitária, no primeiro semestre, ganhou repercussão”, diz Mateus Leme, professor de redação do Curso Pré-Vestibular Oficina do Estudante.

Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostram que, em 1970, 5,1% da população tinha 60 anos ou mais. Hoje, tal população chega a mais de 15%, ou 33,7 milhões de pessoas -fatia ligeiramente maior que os 33,5 milhões de 20 a 29 anos.

Luiz Carlos Dias, do Etapa, liga o tema do envelhecimento da população à questão da economia do cuidado, ou seja, cuidadores de idosos, por exemplo.

ESCRAVIDÃO CONTEMPORÂNEA E TRÁFICO DE PESSOAS

São diversos os casos nos últimos anos relacionados a situações análogas à escravidão e também de tráfico de pessoas.

“O assunto se encaixa no perfil da prova de redação do Enem: um problema social brasileiro que cotidianamente afeta brasileiros e eventualmente recebe destaque midiático”, diz, sobre trabalho análogo à escravidão, Mateus Leme, do Oficina do Estudante.

O Brasil, inclusive, conta com a chamada “lista suja do trabalho escravo”, que teve uma atualização recente, a maior da história, com inclusão de 204 nomes, que somados aos que já ali estavam, resultam em 473 CPFs e CNPJs.

A atualização recente diz respeito a 1.765 trabalhadores resgatados de condições análogas à escravidão. Desde 1995, mais de 61 mil pessoas nessa condição já foram encontradas pelo MTE (Ministério do Trabalho e Emprego).

Já na questão do tráfico de pessoas, segundo o Ministério da Saúde, de 2011 a 2019 foram registrados 1.302 casos do tipo. O ministério diz acreditar que a pandemia possa ter agravado a situação, pelo aumentou a vulnerabilidade socioeconômica. Pesquisadores do tema apontam a relação do tema com exploração sexual.

CHATGPT E IA (INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL)

O ano de 2023 vai ficar marcado, entre outras coisas, pela explosão no alcance das ferramentas de inteligência artificial. A popularização veio especialmente graças ao ChatGPT, que passou a ser amplamente usado e comentado.

Portanto, o impacto do uso desse tipo de ferramenta nos estudos e/ou no mercado de trabalho pode acabar virando tema para a redação do Enem. Essa é uma das apostas de Mateus Leme, do Oficina do Estudante.

“Na prova do Enem, caso esse seja o assunto escolhido, é mais provável que esses questionamentos [como substituição de pessoas, limites éticos e direitos autorais] não fiquem em aberto, mas sim, sejam direcionados a um problema ou impacto específico do uso dessa tecnologia no dia a dia da sociedade brasileira”, diz Gabrielle Cavalin, do Poliedro.

 

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