O Carnaval é um período de alegria, mas também pode ser um momento em que hábitos descuidados afetam a saúde íntima. O calor intenso, a ingestão excessiva de álcool, o uso prolongado de roupas úmidas e a privação de sono criam um ambiente propício para o aumento de infecções do trato urinário (ITUs) e infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
Segundo a ginecologista Dra. Natália Castro, especialista pela FEBRASGO, cerca de 80% dos casos de ITU são causados por uma bactéria que coloniza naturalmente o trato urinário feminino. No entanto, fatores como alta umidade, biquínis molhados, consumo exagerado de álcool, privação de sono e a maior frequência de relações sexuais, especialmente com múltiplos parceiros, podem aumentar a predisposição a esse problema.
A infecção urinária geralmente se manifesta com sintomas característicos, como dor e ardência ao urinar, aumento da frequência urinária e cheiro forte na urina. Como o diagnóstico é bastante específico, o tratamento com antibióticos costuma ser iniciado de forma imediata para evitar complicações.
A prevenção, no entanto, é simples e passa por cuidados como manter uma hidratação adequada, ingerindo de dois a três litros de água por dia, evitar permanecer com roupas úmidas por longos períodos e manter a higiene íntima antes e depois das relações sexuais.
Além disso, a alimentação desempenha um papel importante: alimentos ultraprocessados podem ser pró-inflamatórios e comprometer a imunidade, enquanto frutas e vegetais ajudam a fortalecer o organismo. Moderação no consumo de álcool também é essencial, pois o excesso pode reduzir a imunidade e favorecer infecções. Apesar de existirem muitos mitos sobre a transmissão de ITUs, o uso de banheiros públicos, quando higienizados corretamente, não é um fator de risco.
Além das infecções urinárias, o Carnaval também é um período de aumento dos casos de ISTs, muitas vezes devido à maior liberdade sexual e ao sexo sem proteção. De acordo com a ginecologista Dra. Karina Tafner, especialista em reprodução humana, doenças como clamídia e gonorreia são frequentes e, muitas vezes, assintomáticas, podendo levar a complicações como doença inflamatória pélvica e infertilidade.
A sífilis, conhecida como “a grande imitadora”, também preocupa por seu caráter silencioso nos estágios iniciais. Houve um aumento expressivo no diagnóstico de novos casos nos últimos anos, muito associado à falta de prevenção. Outras infecções, como o HPV, que pode causar verrugas genitais e está ligado ao câncer do colo do útero, e o herpes genital, que provoca feridas dolorosas, também merecem atenção.
Entre as ISTs mais graves, o HIV continua sendo um grande alerta. Em 2022, foram registrados 36.753 novos casos de infecção no Brasil, sendo a maioria entre homens.
O vírus pode permanecer assintomático por anos, tornando essencial o uso de preservativo em todas as relações. Além disso, medidas como a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), indicada para quem tem maior risco de contaminação, e a Profilaxia Pós-Exposição (PEP), que pode ser tomada até 72 horas após uma relação de risco, são formas eficazes de prevenção. Outras ISTs que podem ser transmitidas sexualmente incluem as hepatites B e C, que afetam o fígado e podem ter consequências graves quando não diagnosticadas precocemente.
A melhor forma de curtir o Carnaval com segurança é investir na prevenção. O uso correto de preservativos, tanto masculino quanto feminino, continua sendo a maneira mais eficaz de evitar ISTs. Levar camisinha consigo pode evitar riscos no momento da empolgação, e moderação no consumo de álcool e drogas também ajuda na tomada de decisões mais seguras.
Além disso, exames regulares são fundamentais para o diagnóstico precoce, principalmente porque muitas dessas infecções não apresentam sintomas no início. Se houver exposição ao HIV, por exemplo, a PEP deve ser iniciada o mais rápido possível para reduzir os riscos de infecção.
Para a Dra. Karina Tafner, a conscientização é fundamental. “O Carnaval deve ser um momento de diversão, e cuidar da sua saúde íntima faz parte disso. Se tiver qualquer sintoma ou dúvida, procure um ginecologista sem vergonha ou medo. Informação e prevenção são essenciais para aproveitar a folia com segurança”, conclui a especialista.
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