O acesso ao esporte é fundamental, mas, para crianças, ele pode ser transformador. O projeto “Do Morro ao Pódio” tem impactado diretamente 25 crianças e adolescentes da comunidade do Cubango, em Niterói.
Idealizado pela ex-atleta da Seleção Brasileira de Luta Olímpica, Gracyenne Helena, de 31 anos, o projeto oferece aulas gratuitas da modalidade e proporciona oportunidades que vão além do tatame. São diversas medalhas já conquistadas pelos pequenos.
O pequeno Henry Barroso, de 10 anos, é um dos atletas do projeto e conta que sua vida mudou desde que começou a praticar luta.
“A luta mudou muito a minha vida desde quando cheguei aqui no projeto. Eu sempre quis fazer um esporte”, diz ele, um pouco envergonhado, explicando que sempre gostou de atividades físicas, mas nunca teve acesso a uma oportunidade como essa.
Outro exemplo é Derick Silva, também de 10 anos, que entrou no projeto há dois anos e, desde então, nunca mais faltou a uma aula. Antes, ele passava os dias em casa assistindo à televisão e jogando videogame após a escola.
O menino reconhece que a falta de atividades era prejudicial e tediosa, mas hoje coleciona medalhas conquistadas em competições, como no Campeonato Estadual de Wrestling do Rio de Janeiro, no ano passado. Ele também destaca a importância dos treinos pesados.
“Aqui a professora pega pesado, mas é para o nosso bem, para crescermos um dia”, conta.
A prática esportiva tem sido uma ferramenta poderosa para afastar crianças e adolescentes de situações de risco, além de ensinar disciplina e persistência. Desde 2023, o projeto oferece treinos duas vezes por semana, incentivando os alunos a evoluírem.
Para os jovens atletas, as mudanças vão muito além das competições. O projeto impacta comportamento, aprendizado e desenvolvimento social. Um exemplo disso é um aluno que, ao chegar, era muito tímido e evitava interagir com outras crianças. Com o tempo, ele se tornou um dos mais comunicativos da turma infantil.
Outros alunos destacam que tiveram mudanças físicas e adotaram hábitos mais saudáveis. “Eu era um pouco acima do peso, isso prejudicava minha saúde, e além disso, eu não conseguia fazer os exercícios direito”, conta Diogo Gabriel, de 11 anos.
De bailarina à lutadora
Lavínia Vitória, de 9 anos, era bailarina antes de conhecer a luta olímpica. No entanto, ao entrar no projeto, se apaixonou pela modalidade e nunca mais parou. Questionada sobre possível arrependimento de ter trocado o balé pela luta, ela responde sem hesitação: “Não, eu gosto muito de lutar”. A atleta já conquistou duas medalhas em competições e festivais.
Professora é exemplo
Gracyenne Helena, é professora de Educação Física e ex-atleta da Seleção Brasileira de Luta Olímpica. Sua história se conecta com a de seus alunos. Ela começou no esporte aos 13 anos, mas precisou treinar no Rio de Janeiro, pois não havia um local adequado em Niterói.
Em 2022, percebeu a necessidade de criar um espaço para as crianças da comunidade e, no ano seguinte, transformou a ideia em realidade.
Eu precisava dar uma oportunidade para essas crianças mudarem de vida. Foi assim que pensei no projeto social
Ex-atleta da Seleção Brasileira de Luta Olímpica, Gracyenne Helena
O projeto teve início com apenas dois alunos em uma praça da comunidade. Com o tempo, mais crianças se interessaram, e hoje as aulas reúnem cerca de 25 atletas fixos. Mesmo sem estrutura adequada, os treinos acontecem ao ar-livre e, nos dias de chuva, Gracyenne improvisa um espaço na laje de sua casa para não interromper as atividades.
O ‘pódio’ do projeto vai muito além das medalhas. O mais importante é sair do morro, conhecer outros lugares e transformar vidas por meio do esporte
Quando perguntados sobre o que mais gostam no projeto, os alunos se dividem entre os que apreciam os treinos e os que preferem a convivência. “O que eu mais gosto é de brincar, me divertir, ser criança e… comer!”, conta Lavínia.
Com recursos próprios, Gracyenne realiza, uma vez por mês, a “Noite do Lanche” para os alunos, proporcionando um momento de recreação e até banho de mangueira. “Isso é bom, principalmente para ficarmos juntos, sem a pressão dos campeonatos”, explica a professora.
Atualmente, os atletas também recebem apoio de um projeto social que doa cerca de 80 marmitas de jantar toda terça-feira após os treinos. No projeto, cada treino não é apenas sobre luta. É sobre lutar por um futuro melhor.
Como participar
As aulas do projeto são abertas ao público de todas as idades e acontecem às terças e quintas-feiras na Travessa 3 de Outubro, na pracinha da São Luiz, no bairro Cubango. O primeiro horário, às 18h, é voltado para crianças, e às 19h, para adolescentes. Em breve, o projeto pretende abrir um horário também para adultos.