O estado ficou debaixo dágua, sem luz, internet, abastecimento e saneamento
O Brasil inteiro tem se emocionado, diariamente, com a tragédia que se abateu sobre o Rio Grande do Sul. Devastado pelas enchentes, o Estado está debaixo d’água, sem luz, internet, abastecimento e saneamento. Cidades inteiras foram soterradas, pela lama oriunda dos deslizamentos. Não para de chover, mais cidades estão sendo evacuadas, em uma catástofe natural sem precedentes.
Como imagens valem mais do que mil palavras, todos nós torcemos pelo cavalo Caramelo, ilhado no topo do telhado de uma casa, até ser resgatado vivo. Choramos com a notícia do bebê que boiava sem vida, sobre as águas, tendo sido confundido com uma boneca, por um bombeiro. Vibramos com o salvamento de um recém nascido, pelo surfista Pedro Scooby.
Solidariedade
A ajuda chega de todas as partes, a sociedade civil está mobilizada no amparo ao povo gaúcho, abrigos e hospitais de campanha vão surgindo, doações chegam a todo momento. Muita gente boa tem se desdobrado, arrecadando todo tipo de recurso ou, em seus próprios botes, jet skis, canoas, caiaques e lanchas, salvando pessoas.
Entretanto, como em toda tragédia, embora o melhor do ser humano possa aflorar, o mesmo acontece com o lado ruim de muita gente. Thomas Hobbes já dizia que o homem é o lobo do homem. E isso é a mais pura verdade.
Homem é o lobo do homem
Na ausência de um poder de polícia forte e estruturado – até porque todos os órgãos públicos estão mobilizados para salvarem vidas – diante da leniência de nosso sistema penal e de tantos criminosos à solta, os “lobos” têm aparecido, saqueando casas abandonadas por seus proprietários, assaltando pessoas que estão em lanchas e jet skis salvando outras – é sério! – cometendo estupros em abrigos, além de outros crimes. É terrível constatar que, em meio ao caos, algumas pessoas possam tornar a vida daquele povo devastado ainda pior.
Talvez por isso eu goste tanto de filmes apocalípticos, séries sobre zumbis e o fim do mundo. Porque a filosofia está ali presente, mostrando-nos a todo instante, que a vida é feita de escolhas, e que mesmo diante de situações aterradoras, cada um de nós pode decidir como reagir.
Muitos pegaram seus botes, aviões, helicópteros, lanchas, agasalhos, alimentos, calçados, galões de água, remos, colchões, itens de higiene ou o que estivesse à mão, e foram socorrer seus compatriotas.
Outros muniram-se de facas, revolveres, pedaços de pau e canivetes, indo assaltar e aterrorizar os desabrigados e os socorristas. Escolhas. Escolhas. Escolhas. Sobre as quais todos teremos que prestar contas um dia.
Vi relatos de pessoas que estão ilhadas, sem água ou comida, mas que não querem deixar suas casas, por receio de saques, que lhes tirarão o pouco que restou de seus pertences.
Também ouvi, no noticiário, que muitos dos estupros estão sendo cometidos pelos próprios parentes das vítimas e que estão sendo recrutados lutadores de artes marciais, para fazerem a segurança dos abrigos. Coisas inimagináveis, mas que tem acontecido no Sul do Brasil.
A vida sempre nos exigirá decisões difíceis. Haverá episódios dramáticos, momentos críticos, perdas e decepções. Contudo, pairará sobre cada uma dessas circunstâncias, a escolha: ser alguém melhor a cada dia, aprendendo com as adversidades, ou tornar-se o lobo ressentido, perverso e que a tudo destrói, de que falava Thomas Hobbes.